Eis
o Cruze, o carro que aposentará o Vectra em nosso mercado para devolver à
Chevrolet a possibilidade de entrar no segmento dos sedãs médios na faixa de 60
000 a 65 000 reais, o mais fervilhante do momento e dominado pelos samurais
Civic e Corolla. Oficialmente, a fábrica desmente os rumores sobre o plano de
aposentadoria do Vectra, mas o fato é que não há lugar para os dois conviverem
- pior: sozinho, o Vectra da geração atual não conseguia fazer sombra aos
líderes japoneses. Os planos da GM para o Cruze vão muito além de nossas
fronteiras. O modelo tem importância estratégica para a marca. Ele é o primeiro
passo do plano de reestruturação decretado para vencer a crise que tomou conta
da GM e estourou em 2008. A ordem é globalizar plataformas e produtos, o que,
na prática, significa que todos os lançamentos serão carros mundiais. Com
4,60 metros de comprimento e 1,79 metro de largura, o Cruze tem o mesmo porte
do Corolla e do Elantra, modelo da Hyundai que estreia em outubro e que,
segundo uma fonte ligada à Chevrolet do Brasil, é um concorrente tão respeitado
quanto os japoneses da Toyota e da Honda. O Cruze é bastante racional na
distribuição de espaço: com 2,69 metros de entre-eixos, reserva 107 cm de
espaço para as pernas na dianteira, 90 cm na traseira e oferece portamalas com
450 litros. Com 2,70 metros de entreeixos, o Elantra revela números similares
na cabine (111 cm para as pernas na dianteira e 84 cm na traseira), mas perde
no volume do porta-malas, 420 litros. Além de espaçosa, a cabine do Cruze é
bem cuidada. Exibindo elementos comuns a outros carros da marca, ela ajuda a
reforçar a impressão de unidade. O painel com a parte central destacada, por
exemplo, cria o que a GM chama de duplo cockpit, com ambientes claramente
divididos para motorista e passageiro. Detalhes como os botões giratórios do
arcondicionado, parecidos com os do Agile, também dão "homogeneidade da
nova GM" ao Cruze. Revestida por uma parruda cobertura plástica, a face
interna do esquadro das portas tem aparência robusta e caprichada. No painel,
junto à porta do motorista, um dos poucos deslizes estéticos detectados em
nosso primeiro encontro: o plugue de contato do sistema de diagnose fica
aparente, sem qualquer tipo de proteção dos contatos metálicos. Serão duas
as versões: LT, de entrada, e LTZ, a mais completa, que é o caso desta que
testamos com exclusividade. Infelizmente, pouca informação (técnica e de
conteúdo) foi passada de forma oficial. O que se sabe é que ao menos a versão
LTZ não terá opcionais. Ou seja, tudo o que encontramos no "nosso
carro" já está incluso no preço, que, segundo uma fonte ligada à marca,
ficará entre 62 500 reais (LT) e 75 000 reais (LTZ). Esse mesmo informante diz
que "as primeiras unidades serão entregues às concessionárias na primeira
quinzena de setembro e as vendas se iniciam logo em seguida, antes do fim do
mês". Ar digital, direção assistida, trio elétrico, ABS, controles de
estabilidade e de tração, airbags frontais, laterais e do tipo cortina, rodas
de liga leve aro 17, sistema de partida do motor e abertura das portas sem
chave, volante com comandos de som, telefonia e piloto automático - tudo é de
série. O destaque do Cruze LTZ é a central multimídia com tela de cristal
líquido no centro do painel. Interativo, o equipamento permite ao piloto
operar, configurar e personalizar os sistemas de som, telefonia, navegação e do
próprio carro. Intuitivo, não exige mais que 5 minutos de dedicação para que o
motorista se familiarize com os botões - a tela não é sensível ao toque -,
agrupados com os do rádio e do ar-condicionado digital. A tampa do console
central (entre os bancos dianteiros) corre longitudinalmente e, apesar de
pequena, serve como um confortável apoio de braço. Recolhida e aberta, revela
as entradas auxiliares compatíveis com o sistema de áudio (USB, de cartão de
memória e do tipo P2). Não espere a mesma superfície emborrachada do
painel do Vectra. No Cruze, o acabamento mistura plástico rígido e couro
sintético. Essa mescla de materiais e cores faz parte da filosofia da marca de
ousar um pouco mais na decoração da cabine: o tecido dos bancos do Agile, com
desenhos formados por relevos, vem sendo copiado por outras marcas. O
Cruze brasileiro será produzido em São Caetano do Sul (SP), mas o índice de
nacionalização no começo será pequeno. "Cerca de 30%, no início",
segundo nossa fonte. Motor e câmbios (manual e automático) serão importados. O
motor também é um estreante. Deriva do Ecotec 2.4 aplicado no Malibu, com
cilindrada reduzida para 1,8 litro e controlado por uma central flex. Com variador
de fase nos comandos de válvulas da admissão e escape, ele gera 140 cv de
potência - o torque não foi divulgado pela montadora. Em conjunto com o câmbio
automático de seis marchas, o 1.8 se mostrou suficiente para garantir agilidade
compatível com a dos concorrentes nas acelerações e retomadas, mas foi mal nas
provas de consumo: 6,6 km/l na cidade e 9,3 na estrada. Suave, a suspensão
combina com o acerto do trem de força e da direção elétrica. Ela conta com o
auxílio do controle de estabilidade e tração, que pode ser desativado por meio
de um botão próximo à alavanca de câmbio. Esqueça ele, pois os dispositivos
cumprem sua função sem exagero, o que deve agradar quem aprecia uma tocada mais
esportiva. O desafio do Cruze por aqui é considerável. Mas a julgar por
seus dotes e, principalmente, por sua aceitação no aguerrido mercado americano
(ele é atualmente o carro de passeio mais vendido por lá), é de supor que ele
não tenha dificuldade para reconduzir a GM à elite da liga dos sedãs médios.
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