O Uno é duro na queda. Lançado em 1984, ele poderia ter se despedido de nós em 1996, com a chegada do Palio. O atual presidente da Fiat, Cledorvino Bellini, que na época trabalhava na Magneti Marelli, afirma que o destino do Uno gerou discussões acaloradas na sede da fábrica, em Betim (MG). Graças ao bom desempenho no mercado, o Uno não só se manteve até hoje como conquistou o direito a uma segunda edição. A nova geração, no entanto, também correu riscos. Ela foi ameaçada pela crise econômica internacional, uma vez que a matriz da Fiat abandonou o projeto que, além do novo Uno, contemplava a renovação do Panda italiano. Mais uma vez, entretanto, o destino sorriu para o Uno e a Fiat brasileira decidiu seguir com a parte que lhe cabia nos planos. O resultado é o carro que você vê nestas páginas. Ele chega este mês às lojas em quatro versões – Vivace 1.0, Attractive 1.4 e Way 1.0 e 1.4 –, mas não aposenta o antecessor, que segue firme entre os líderes de vendas. Como era de esperar, o novo Uno herda traços dos dois modelos que inspiraram seu projeto, mistura fácil de fazer, uma vez que o Uno e o Panda originais são contemporâneos e saídos das pranchetas do mesmo designer, o italiano Giorgetto Giugiaro. O maior desafio foi recriar o conceito, alinhando-o aos dias atuais, sem abrir mão dos elementos e das soluções reconhecidos como aspectos positivos do Uno, a exemplo da robustez e da versatilidade. Para o desenvolvimento do novo design, a Fiat lançou mão de uma inédita pesquisa com um público definido como formador de opinião (veja na pág. 80). À primeira vista, o novo Uno é um carro diferenciado, à moda do Kia Soul – “o-carro-design”, como diz a fabricante coreana. Ele reúne simpatia e jovialidade a linhas pouco convencionais que surpreendem. E, para quem quiser se diferenciar ainda mais na paisagem, a Fiat criou seis kits de personalização e diversos acessórios que podem vir de fábrica ou ser instalados nas concessionárias. Nas fotos, o modelo vermelho é uma versão Attractive 1.4 que recebeu rodas de liga leve, um kit de adesivos com tema esportivo e acessórios como spoiler e saias aerodinâmicas, molduras para os faróis de neblina e retrovisores cromados, entre outros itens. O verde é um Way 1.0 básico. Ao mesmo tempo que arredondaram as quinas do antigo Uno, os projetistas aproveitaram para esticar a carroceria em todas as direções. Enquanto o Uno Mille mede 369 cm de comprimento, 145 cm de altura e 155 cm de largura, o novo Uno ficou com 377, 149 e 164 cm, respectivamente. Essa expansão resultou em mais espaço na cabine, onde a distância para os ombros na dianteira aumentou 2,3 cm (de 132,7 para 135 cm) e o espaço para cabeça do motorista cresceu 2,7 cm (de 96,9 para 99,6 cm). Com uma fita métrica na mão, pode parecer pouco, mas uma vez acomodado dentro do carro nota-se quanto isso contribuiu para o ambiente ficar arejado. A capacidade do porta-malas diminuiu de 290 para 280 litros, mas, como o novo banco traseiro é reclinável em duas posições, é possível recuperar os 10 litros perdidos ajustando o encosto na posição mais vertical. A distância entre os eixos aumentou 1 cm, de 236 para 237 cm – isso porque o novo Uno trocou a base do Mille pela plataforma do Palio, “modificada”, como diz a Fiat. Segundo a fábrica, apenas o piso do Palio foi aproveitado. Todos os demais componentes da plataforma são novos. Prova disso é que até as bitolas são diferentes. Enquanto no Mille a distância entre as rodas dianteiras é de 138 cm e entre as traseiras é de 136 cm, no Palio são respectivamente 142 e 138 cm e, no novo Uno, subiram para 143 e 142 cm. O benefício desse crescimento se percebe no comportamento do carro. Ajudado pela nova suspensão (McPherson na frente e eixo de torção atrás), o Uno ficou mais bem assentado, firme e gostoso de dirigir. Nas curvas, a carroceria se inclina, mas apoia-se de modo estável, sem as oscilações verificadas no Palio, por exemplo. E, nas mudanças de faixa, o eixo traseiro – que teve a flexibilidade aumentada e as buchas reforçadas – não briga com o dianteiro, seguindo as manobras com muita prontidão e obediência. Na apresentação, realizada no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, não foi possível medir o desempenho do novo Uno. No entanto, os dois novos motores Fire 1.0 EVO e Fire 1.4 EVO causaram boa impressão, sendo que o 1.0 pareceu mais bem disposto, para seu tamanho, que o 1.4, dentro de sua categoria. A Fiat explica que, apesar de maior e mais sofisticado, o motor 1.4 foi desenvolvido com o objetivo de conseguir maior economia de combustível, enquanto no 1.0 a engenharia buscou desempenho (veja quadro na pág. seguinte). Segundo a Fiat, esses motores serão exclusivos do novo Uno e não aposentam os que equipam Uno Mille, família Palio e Punto atuais. Pelo menos, por enquanto. O novo Uno sabe receber a bordo. A Fiat se orgulha da suavidade das batidas de suas portas, ao serem fechadas. O motorista se ajusta com facilidade ao volante. E os passageiros encontram bom espaço para entrar, sair e sentar. Os bancos, que no modelo original já eram referência, ficaram ainda melhores, apoiando bem o corpo, e, agora, com encostos de cabeça pronunciados para diminuir o efeito chicote causado por colisões traseiras. A ergonomia também foi aprimorada. O volante tem relevo anatômico desde as versões básicas e as saídas de ar, no alto do painel, evitam que o motorista congele as mãos, quando resolve mudar a estação do rádio (como ocorre na linha Palio). Há porta-trecos nas portas, entre os bancos e no teto, onde existe um porta-óculos sobre a porta do motorista e um console central igual ao da minivan Idea – estes últimos de série, nas versões 1.4, e opcionais nas 1.0. Em relação aos equipamentos, se consideramos as configurações básicas de cada versão, o novo Uno é pobre, uma vez que itens elementares como direção hidráulica, travamento automático das portas e banco do motorista com ajuste de altura são opcionais para todas as versões. A mais simples, a Vivace 1.0, traz como seus equipamentos de série mais importantes indicador de consumo instantâneo (Econômetro) e luz-espia para manutenção programada. Na Attractive 1.4, a situação melhora um pouco. A lista inclui comando interno de abertura do tanque e do porta-malas, cintos dianteiros com ajuste de altura, lavador e desembaçador do vidro traseiro e retrovisores com comandos mecânicos internos. A Way 1.0 acompanha o conteúdo da Vivace e a Way 1.4 segue a Attactive, com o acréscimo de itens próprios de seu visual aventureiro, como barras longitudinais no teto, faróis com máscara negra, lanternas fumê, faixas laterais nas portas, molduras nas caixas de roda e revestimento preto nas colunas das portas. Até a data de fechamento desta edição, a Fiat não havia divulgado os preços do novo Uno, informação que só estará disponível na segunda semana deste mês, de acordo com a empresa. Em nossas contas, entretanto, a Vivace 1.0 chegará por cerca de 26 000 reais, valor com boas chances de ser anunciado como 25 990 reais, para dar a impressão de que é menor. É o que os vendedores chamam de “sexy price”. Dentro desse conceito, a Attactive 1.4 sairá por 30 990 reais, a Way 1.0 por 34 990 reais e a Way 1.4 por 36 990 reais. Sempre com carroceria de quatro portas, uma vez que a de duas só será lançada em julho, com preços cerca de 2 000 reais menores que os das versões correspondentes de quatro portas. Nesses valores, a Vivace teria como rivais o Chevrolet Celta e, em casa, o Palio Economy. A Attactive disputaria a preferência dos consumidores com Ford Fiesta e Palio ELX 1.4. E a Way 1.4 brigaria com VW Gol Power 1.6, Palio ELX 1.8 e Punto 1.4. Ou seja: se no passado o Palio ameaçou o Uno, agora é a vez de o Uno incomodar. Segundo a Fiat, o proprietário do Uno terá 11,5 milhões de combinações possiveis para personalizar seu carro. São acessórios como capa de retrovisor cromada, molduras para os faróis de neblina, spoilers dianteiros, ponteiras de escapamento de alumínio, saias aerodinâmicas traseiras, aerofólios e molduras para a grade dianteira. Haverá kits adesivos que poderão ser adiquiridos nas autorizadas ou pedidos como opcionais de fábrica, em seis temas, entre eles, um esportivo e um tribal, para decorar diferentes partes da carroceria e também do painel do veículo.
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